sábado, 3 de abril de 2010

Dancing with myself.

  Tava lendo agora a pouco o blog do Ernesto que eu não lia há algum tempo e fui observando algumas questões que eu tenho estudado na faculdade e lido em livros, inclusive. Uma das que mais chamou minha atenção está no texto "Cacos". O medo que as pessoas tem da exposição das suas verdades e pensamentos é realmente muito grande. Eu não havia percebido quanto medo dos outros e da vida carregamos dentro de nós. E falo muito de mim que, obviamente, sou a pessoa que melhor conheço. Depois de experiências boas e ao mesmo tempo traumáticas, criei alguns muros em volta de certas parte da minha personalidade que eu julgava não serem muito dignas do conhecimento alheio. E daí se eu fico mal-humorada, se eu não acordo maquiada e se vou ao cinema sozinha? O que a opinião das pessoas diz sobre essas partes não encaixava com o que eu achava. Ir ao cinema sozinha é saber que eu posso me divertir sozinha, que não necessito de ninguém pra fazer o que me der vontade. Correr na praia sozinha também não faz de mim uma pessoa maníacadepressivasolitáriaorfã. Algumas das poucas pessoas que pescaram essas áreas da minha personalidade acham que o fato de eu não ligar nem um pouco pra nada disso é loucura e falta de vergonha. Eu gosto de assumir que não tô sempre arrumadinha, que nem sempre sou a pessoa mais feliz do mundo, que já menti, que já desejei o mal dos outros. E nada disso faz de mim uma pessoa assim ou assado. Esse negócio de "fulano é falso" é a coisa mais surtada que eu já ouvi. Ninguém é falso, as pessoas são incoerentes. Um dia eu posso querer beber até cair e no outro posso querer ver todo mundo encher a cara pra rir sóbria dos bêbados em volta. Coisa mais chata é viver pensando no que os outros vão pensar sobre o que você fez ou vai fazer. Julgamentos e preconceitos eu tenho, só me recuso a ser isso sem espaço pra ser mais nada. Nada mais gostoso do que poder ser o que você quiser. Essa mania de "etiquetar" as pessoas por categorias e guardar em gavetinhas é tão limitadora, tão sem sal. Tem muito mais graça quando a gente pode mostrar que tem defeito, que tem problema, que carrega tudo isso dentro de si sem explodir. Não tem nada mais incrível que poder ser uma caixa sem fundo, onde você guarda tudo que você conhece sem se limitar a nada do que entra ou sai. Só porque você foi ou é algo não quer dizer que não possa ser outra coisa. E o fato de eu não agir em função da opinião alheia não significa que eu não importe com a opinião dos outros; o que as pessoas que eu amo e me amam pensam significa sim e muito pra mim. A diferença é que acima desses pensamentos e do amor que eu tenho por essas pessoas está o meu coração e a minha consciência, esses sim me dizem aonde ir ou o que não fazer. Acho tão melhor assumir quem nós realmente somos e quem desejamos vir a ser, não quero ser uma dessas pessoas de gavetinhas. Ok se eu não fui boa o tempo inteiro (já fui bem mázinha inclusive).Ok se eu sou muito piegas de vez em quando. Ok se eu odeio dormir de conchinha e se não sou "a última romântica dos litorais desse oceano atlântico". Ok se um dia eu fico com alguém que não vou ver nunca mais e se no outro vou ficar com outra pessoa e morrer de paixões. Ok se eu sou louca e danço músicas velhas sozinha. Ok se faço coisas sem sentido. Ok se eu rio de bobagens e sou muito idiota. Ok se sexo é um problema pros outros mas não é pra mim. Eu parei de querer ser algo agradável e tragável pras pessoas. Eu gosto de vivências de verdade; as metades não me satisfazem. E tenho me aproximado cada vez mais de gente de verdade, que sente, que chora, que gargalha de tanto rir, que se joga na vida como se tivéssemos tempo cronometrado e estivéssemos na reta final - e se pararmos pra pensar realmente estamos.


Trechos de textos que eu amo:

"Tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. 
Coisa simples é lindo. E existe muito pouco."

"Tenho pensado se não guardei indisfarçáveis remendos das muitas quedas. Embora sempre os tenha evitado, aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia."

“Cheio de fé. Essa mesma que me alimenta até hoje, e que me faz ser capaz — como neste momento — de ainda me emocionar ouvindo os Beatles cantarem coisas como “all you need is love, love, love..." 

"Oi-tudo-bem-e-aí-tô-ligando-pra-saber-se-você-vai-fazer-alguma-coisa-hoje-à-noite. Como se a gente tivesse obrigação de fazer alguma coisa toda noite. Só porque é sábado. Essa obsessão urbanóide de aliviar a neurose a qualquer preço nos fins de semana, pode? Tenho vontade de dizer nada, não vou fazer absolutamente nada. Só talvez, mais tarde, se estiver de saco muito cheio, tentar o suicídio com uma dose excessiva de barbitúricos, uma navalha, um bom bujão de gás ou algo assim. Se você quiser me salvar, esteja a gosto, coração."

”Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros" 


 Caio Fernando Abreu 


Grande beijo ;)


Ao som de:
Beirut - The Flying Club Cup (Album)
Belle & Sebastian - Here Comes The Sun 

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